Morreu o Maioral João Gaitas

Morreu hoje o Maioral João Florindo da Costa, mais conhecido por João Gaitas com 89 anos, e com ele o início de um fecho de um ciclo que se encerrará, quando o último dos Campinos Azinhaguenses da Sua geração, partir! Morreu um dos Homens do Ribatejo, que envergou com dignidade o calção azul, o colete encarnado e o branco rendado das suas meias. Morreu um dos integrantes da figura romântica da nossa ruralidade concelhia, de um passado recente. 

Com ele se foi, um grande pedaço do culto da tradição, que soube e teimou fazer sobreviver na modernidade e no progresso!! Morreu quem contribuiu para o sedimento de uma cultura, a nossa, e concorreu para elevar a sua identidade! Foi-se um dos expoentes do arquétipo do devoto à sua causa, da dignidade no trabalho, do respeito, da honra e da bravura. 

O Campo e o Espargal quando hoje escurecer e se embrenharem nas suas memórias, por saberem porque a torre sineira da Azinhaga tocou a finados, recordarão aquele que foi guardião dos nossos hábitos e costumes. Lembrar-se-ão de João Gaitas, que só eles o ouviam quando ele só com a sua montada, entre a Brôa e Miranda, ambos conversavam. Porque a tinha desmamado, desbastado, enfreado e cavalgado. A ela e a outras tantas. E decerto lá ia com ela ralhando, como de pai para filho, de igual modo, "acariciando-a", quando o compreendia e cumpria!

Não só o Campo da Azinhaga ou as árvores, os arbustos e os cómodos aqui da Golegã, em nossa casa, aquando em tempo de cobrição, apartava as éguas, e, aqui ao cavalo, as trazia. Também os Salgados, no Campo de Vila Franca, dele se lembrarão, quando a Éguada conduzia, apoiado pelo seu moço, do Mouchão, à Chamusca, com ela de madrugada saía até lá, pois, melhor pasto urgia. Há já algum tempo, que o Sol forte não o queimava, que o vento agreste não o assediava e que a chuva não o molhava, como em tempos duros da dura faina em que labutava.

Com João Gaitas irá algo de nós. O que nos emprestou. O seu apoio, o conselho, o conforto, o carinho, a estima e a consideração, desde da criança que éramos ao adulto que fomos. Tudo foi mútuo, tudo foi recíproco.

No ano 2000, solicitámos, na nossa qualidade de Presidente da Câmara Municipal, ao então Presidente da República que o honrasse, ao distingui-Lo, em plena Feira Nacional do Cavalo. Mais que um louvor de mérito, a gratidão!! Ao exaltá-lo, foi a elevação do Campino, que a Golegã, nunca havia lembrado!

Agora que parte, aqui fica na nossa memória, aqui fica como referência, para muitos e para aqueles que na família, sobretudo os que partilham da que foi a Sua paixão. Que Lhe façam jus, a nós resta-nos acompanhá-los na Vossa perda e dor. Bem Haja pelo que foi! Que descanse em paz!!

O Funeral Realiza-se amanhã dia 31 de Janeiro pelas 9h15.

Texto de Dr. José Veiga Maltez publicado na sua pagina pessoal de Facebook.

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