Novo percurso de Santiago desagrada a azinhaguenses


O percurso sinalizado pela câmara municipal para integrar o itinerário europeu dos Caminhos de Santiago, não agrada minimamente à população e à autarquia da Azinhaga. Vindo de Santarém, o percurso passa ao lado do Pombalinho e da Azinhaga, onde vai pela antiga Estrada Real até à Broa, numa espécie de circular rural.
O facto é estranho para Vítor Guia, que não acusa o município de querer encaminhar os peregrinos só para a Golegã, prejudicando assim todo o comércio e actividade turística proporcionada pelos caminheiros. Ainda há uma semana, “um grupo de 17 espanhóis seguiam os novos marcos, mas depois, como tinham um GPS que indicava o caminho por dentro da Azinhaga, viraram para lá para ir almoçar, vieram pelo caminho normal”. Atender às necessidades dos peregrinos é uma situação muito habitual na aldeia - segundo o presidente da Junta, até tem aumentado - onde os restaurantes, os cafés e as duas unidades de turismo rural existentes, recebem pessoas durante todo o ano, que ali se alimentam e pernoitam.
O presidente da Junta insiste que todos os guias correntes e sistemas de GPS têm o itinerário por dentro da Azinhaga e observa a mudança agora feita pela Câmara como uma afronta às pessoas e às próprias vivências da aldeia porque, a partir da primavera, “o comércio também vive disso, precisa de grupos de peregrinos a passar”.
 A Câmara não consultou nem comunicou à Junta que estava a preparar e a oficializar um novo troço. Vítor Guia vai intervir na próxima assembleia municipal para colocar em discussão o tema. “É uma falta de respeito, já estamos habituados. A Câmara quis propositadamente prejudicar a freguesia ao encaminhar os caminheiros só para a sede de concelho”.

A sinalização deve promover o desenvolvimento das regiões, diz o PSD e a Confraria de São Tiago
O PSD da Golegã foi mais longe e escreveu a Veiga Maltez a pedir mesmo a reavaliação da “alteração agora consumada”. Considera que “não tem qualquer sentido em termos de potencial turístico da Azinhaga, de dinamização do seu comércio local, e até do conforto dos peregrinos (…) faz muito mais sentido trazer os peregrinos por dentro da povoação: comércio local, monumentos, locais históricos, o Largo do Miradouro, com espaço para repousar e acesso a sanitários públicos, com água potável, com duche, até”.
As alterações ao troço da Golegã foram feitas por causa do incremento de peregrinos nos últimos anos, que tinham dificuldades em alguns caminhos rurais em mau estado e até ocasionalmente submersos. Mas a comissão política social-democrata avança com uma alternativa àquela escolhida pela Câmara, mais a sul, que termina à entrada da Azinhaga, na rotunda da Agricultura.
O critério seguido pela Câmara foi o caminho que os peregrinos faziam pela antiga Estrada Real até finais do século XVIII. Veiga Maltez refuta por isso todas as críticas e não considera que o interesse turístico-cultural alguma vez pudesse ter sido um critério. Em comunicado responde ao PSD, contrapondo o peregrino, que “aproveita as suas caminhadas, para reflexão, para mudança interior, espiritual” e o turista, “que quer descobrir lugares e pontos de interesse”. O presidente da Câmara diz que o PSD insiste em “transformar o Caminho de Santiago num acto político-partidário”.
A Câmara, contudo diz não se ter alheado do interesse turístico-cultural da zona e instalou mapas e placas a indicar locais de interesse, nomeadamente na passagem pela freguesia da Azinhaga. Nos mapas continua marcada a passagem pela Azinhaga, como um percurso alternativo.
A sustentabilidade histórica do novo percurso não pega nas hostes do PSD, que considera que está perante um desperdício de recursos e de potencial, porque “nada de relevante, em termos históricos ou paisagísticos, os peregrinos irão ver ou conhecer numa distância de mais de 2,5 km até à Quinta da Broa”.
Por fim, o PSD, em comunicado assinado pelo presidente da concelhia, Joaquim Morgado, resgata um documento oficial da Confraria de São Tiago - Espaço Jacobeus, que em 2009 aprovou “Os Princípios Básicos de Sinalização do Caminho da Santiago e Caminho de Fátima”. O documento orienta que “os itinerários de peregrinação (…) permitem o contacto com o património cultural, artístico, arquitectónico e da natureza, promovendo o desenvolvimento sustentável e contribuindo para o desenvolvimento socioeconómico das regiões que atravessam”.

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