Rio Almonda: uma história de descargas, protestos e de promessas

“Torres Novas, enquanto concelho, nunca foi bom para o rio Almonda. Tão longe no tempo quanto me é possível apurar, o Almonda foi usado e abusado pelas pelas actividades empresariais aí sediadas”. Quem o diz é Carlos Simões, ex-vereador do PSD na câmara da Golegã, a propósito do actual aspecto do rio em Azinhaga, que vai seco, sem pinga de água.

A história do rio, como o diz o ex-autarca no seu mural do Facebook, começa em 1783, quando foi concedida a licença para instalar a Fábrica das Chitas em Torres Novas, no período da primeira fase de industrialização da vila.

De acordo com a mesma cronologia, data de 1792 o primeiro protesto público, em sessão camarária, dos moradores de Torres Novas contra a poluição do rio Almonda. Dois anos depois da fundação de uma antiga fábrica do papel (1818), a população da vila voltou a demonstrar desagrado com a manutenção da fábrica de curtumes no local onde era a das chitas, devido aos inconvenientes decorrentes dos despejos para o rio. Em 1845 nasce a Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas e, já no século XX, em 1941, a câmara municipal de Torres Novas solicitou à Estação Aquícola de Rio Ave o envio de carpas para repovoar o rio Almonda. A resposta foi negativa, por se considerar escusadas tais tentativas devido à poluição da água do rio. A Estação Aquícola considerou ”absolutamente contra-indicado o lançamento de quaisquer peixes no rio Almonda, dado o estado de insalubridade das águas”.
Em 1949 a autarquia torrejana voltou a solicitar o repovoamento do rio, uma vez que as espécies anteriormente lançadas se tinham desenvolvido muito bem. A 15 de Agosto chegaram 4000 carpas mas, dois anos depois, o despejo de esgotos industriais que poluía as águas do Almonda provocou uma elevada taxa de mortandade de peixe.

Em 1974 a poluição do rio Almonda foi transformada numa questão nacional, com a deslocação a Torres Novas de uma delegação da subsecretaria de Estado do Ambiente e, no ano seguinte, foi entregue na câmara o ante-projecto do estudo para o saneamento das Ribeiras, Lapas, Torres Novas e Riachos, com vista à resolução do problema da poluição no rio.

Em 1978 realizou-se, junto ao rio Almonda, uma marcha em silêncio em sinal de protesto contra a poluição do rio, organizada pelo jornal ”O Almonda”, com a população torrejana a aderir em massa, e três anos depois foi a junta da Ribeira Branca que, em parceria com várias instituições e órgãos políticos, organizou uma acção conjunta contra a poluição e a crescente mortandade de peixes, devido às descargas poluentes feitas por algumas empresas da região.

Em 1989 foi assinado um contrato-programa com vista à resolução da poluição, nos paços do concelho, em Torres Novas, pelo secretário de Estado do Ambiente e Recursos Naturais, Macário Correia, mas mortandade de peixes continuou a suceder-se. Em Setembro de 1999 centenas de peixes apareceram mortos nas águas do Almonda, desde a Ponte das Lapas até à zona dos Pimentéis.

No dia 8 de Julho de 2004, dia da cidade, a Fiação de Torres Novas fez uma descarga poluente no rio Almonda, que ficou tingido de vermelho. No início de Junho, o Almonda sofreu outro atentado ambiental, desconhecendo-se a origem da descarga. Nessa altura, o rio apresentava uma coloração castanha e as águas estavam opacas e sujas. Segundo Álvaro Maia, técnico do ambiente da câmara de Torres Novas, vários factores incluindo as chuvas, contribuíram para o facto, mas como é vulgar acontecer, alguém aproveitou para fazer descargas.

Hoje, continua-se a defender as potencialidades do rio, mas este continua ser castigado, sobretudo através dos seus efluentes. Os 30 milhões de investimento previstos para o saneamento básico (e abastecimento de água), já se sabe, não resolvem tudo, pelo que a definitiva resolução do problema continuará, inevitavelmente, adiada.

In - Jornal Torrejano.
       Mural Facebook de Carlos Simões

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