Azinhaga recorda o menino Zé Saramago


Azinhaga é uma freguesia pacata, perto da Golegã, que por um dia, ficou mais agitada do que o habitual. É que foi ali, longe de tudo e numa terra rodeada por campos agrícolas, que nasceu José Saramago. O local central de Azinhaga tem um aspecto pacato e é aí que as gentes mais velhas se juntam. Ontem, todos queriam comentar o prémio e a vida do homem que cresceu na aldeia.
Fernando Veríssimo, de 74 anos, recorda que brincou com José Saramago nos tempos antigos em que os meninos não iam à escola e começavam a trabalhar no campo muito cedo: «Brincou muitas vezes connosco, mas ele depois foi para a escola. Eu não. Para mim não havia professores...».
Apesar da vida ser outra e da distância ser maior, as gentes de Azinhaga referem, de imediato que José Saramago costuma aparecer por ali no tempo das festas. «Agora, há muito tempo que não passa por cá. Para aí há uns três anos», diz Fernando Veríssimo.
Acerca do Prémio Nobel da Literatura, as pessoas do largo da Azinhaga não sabem muito bem qual é o significado para quem o recebe. Mas sentem que é algo bom e o orgulho transparece quando o prémio é dado a alguém da terra. «Se o José Saramago não o merecesse não lho tinham dado».


A freguesia mudou muito

A freguesia de Azinhaga tem pouco mais de dois mil e 500 habitantes. A arquitectura e a vida que se faz já nada tem a ver com os tempos em que José Saramago lá viveu. Quem o diz é Augusto do Souto Barreiros, um amigo de infância do escritor e que ainda hoje contacta com Saramago. «Agora as coisas estão diferentes". Mas as brincadeiras já se sabe, eram iguais a todas as brincadeiras das crianças daquela altura: «Jogávamos ao pião, à raia, à roda bota fora».
Depois, Saramago cresceu. Foi morar para Lisboa e rumou à escola. O contacto com Augusto do Souto Barreiros nunca se perdeu porque também ele foi viver para Oeiras e estudar. «Continuámos a encontrar-nos, mas com menos insistência. Já não o vejo há cerca de três anos, mas continuamos a conversar pelo telefone sobre literatura».


"Namoradeiro"

Em Azinhaga, organizavam-se bailes. Conta-se que José Saramago, tal como os outros colegas, estava lá sempre. Era «namoradeiro, mas fazia pela calada e por isso tinha mais sorte», explica o colega a rir.
Sobre o Prémio Nobel, Augusto Barreiros é peremptório. «Acho mesmo, que já deveria ter sido atribuído. Se ele fosse americano, inglês ou judeu, há que anos que já tinha o Prémio Nobel».
Agora, a freguesia de Azinhaga saiu do anonimato em que se encontrava. A terra de Saramago é hoje diferente. Diz Augusto do Souto Barreiros que «mudou para pior. Está mais feia e com mais carros, tudo está modificado».
Não foram só as ruas que mudaram, nem as pracetas, nem o movimento viário. Agora, os habitantes de Azinhaga também estão diferentes. Afinal, o menino José Saramago que jogava ao pião, é um escritor conhecido e ganhou um prémio. O Nobel da Literatura;

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